Uma das dúvidas mais comuns de quem busca tratamento psiquiátrico é: “Se eu começar a tomar remédio, vou ficar dependente para sempre?”. Esse receio é compreensível, já que o uso de medicamentos para o cérebro muitas vezes é cercado de mitos e informações incompletas.
Dependência da Medicação x Uso Contínuo
Primeiro, é importante diferenciar dois conceitos:
Dependência:
Quando o organismo desenvolve necessidade física de uma substância, levando à perda de controle sobre o uso e causando prejuízos à vida da pessoa. Isso pode acontecer com algumas drogas ilícitas e também com certos medicamentos de uso controlado, como alguns ansiolíticos de ação rápida (benzodiazepínicos como “Clonazepam” e “Alprazolam”) ou hipnóticos (como “Zolpidem”, por exemplo), se usados de forma inadequada ou por tempo prolongado sem supervisão.
Na dependência, o medicamento vai perdendo efeito aos poucos, obrigando a pessoa a aumentar a dose para sentir o mesmo efeito. Também pode haver sintomas de abstinência, como ansiedade, tremores ou convulsões, de forma que não se deve suspender o uso abruptamente e sem acompanhamento médico.
Uso contínuo:
Quando o medicamento é prescrito para manter sintomas controlados, prevenindo recaídas. É semelhante ao que acontece com remédios para hipertensão ou diabetes: a interrupção precoce pode levar ao retorno do problema, mas não significa que o paciente esteja “viciado”.
Quando o tratamento é interrompido de forma gradual, com orientação médica, não há síndrome de abstinência no sentido de dependência. O que pode acontecer é a volta dos sintomas ou o surgimento de sintomas de retirada, pela adaptação do organismo, logo após a redução de dose ou suspensão.
A maioria dos medicamentos psiquiátricos não causa dependência!
Antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos, por exemplo, não geram dependência química e muitas vezes são até utilizados para outros fins, como para dor crônica ou para prevenir enxaqueca, pois são seguros e podem ter poucos efeitos colaterais. Eles podem precisar ser tomados por meses ou anos para manter a estabilidade emocional, mas isso é uma necessidade terapêutica, não um vício. É como usar óculos ou tomar medicamentos para doenças crônicas.
Mas não são controlados? “Tarja preta”?
Alguns medicamentos, como antidepressivos, são chamados de “controlados” apenas por ter a venda mais controlada, por questões de regulamentação e de segurança para evitar automedicação.
Os famosos “tarja preta” são aqueles vendidos apenas com apresentação do receituário tipo B (o azul), como clonazepam, alprazolam, diazepam e outros benzodiazepínicos, que realmente podem causar dependência se usados continuamente ou sem indicação médica.
Por isso, quando são necessários, devem ser utilizados na menor dose eficaz e pelo menor tempo possível, sempre prescritos pelo médico, enquanto outras estratégias (como psicoterapia e antidepressivos) fazem efeito.
Por que o tratamento às vezes é de longo prazo?
Transtornos como depressão recorrente, transtorno bipolar, esquizofrenia e alguns transtornos de ansiedade podem exigir uso prolongado de medicação para prevenir crises. Isso não significa dependência, mas sim um cuidado preventivo para manter a qualidade de vida.
Conclusão
O medo de “ficar dependente” não deve impedir você de buscar ajuda. Muitas vezes esse medo acaba atrasando o tratamento e o retorno para uma vida com mais qualidade. O uso responsável e supervisionado de medicamentos psiquiátricos é seguro e pode transformar sua vida. O mais importante é seguir as orientações do seu psiquiatra e nunca interromper ou alterar a dose por conta própria.